sábado, 10 de novembro de 2012

...Ruínas...


"Fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olha-mo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir (...), olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."

Em A Criança Em Ruínas 

José Luís Peixoto


2 comentários:

  1. As palavras de JLP sempre tiveram a capacidade de retratar exatamente estados de espirito tao complexos na perfeição!! bjinho*

    ResponderEliminar
  2. Sem dúvida! Tenho devorado os livros todos dele:) Ele tem uma história de vida muito parecida com a minha...Não é à toa que é dos meus escritores preferidos! :)

    ResponderEliminar